Por ocasião do Dia Mundial das Meninas e jovens Mulheres, que se celebra no dia 11 de outubro, voltamos a falar, mais uma vez, do dramático fenômeno das meninas-noivas, sobretudo, no país do Sul da Ásia, mas também no mundo inteiro, onde ocorrem mais de 600 milhões de casos, mas que, nos próximos cinco anos, poderá aumentar para mais de 9 milhões.
Matteo Frascadore
Com a idade entre 11 e 17 anos, meninas assistem televisão, enquanto dançam, mas, em cada dez, uma delas permanece sentada, com cabisbaixo e ausente: ela, de 14 anos, como outras meninas da sua idade, foi obrigada a casar com um homem desconhecido e mais velho. Isto acontece no Estado federal indiano de Tamil Nadu, a algumas horas de carro de Pondycherry, em uma das casas de “Terre des Hommes”, uma organização não-governamental, que se dedica à reabilitação de meninas e mocinhas, que sofrem violência de todos os tipos. Os últimos momentos da vida fora de casa da menina de quatorze anos, obrigada, provavelmente a deixar a escola e segregada em casa, enganada a sair para ir rezar no templo. “Temos um vestido novo para você” foi o que lhe disse um homem, 26 anos, desconhecido, para atrair a menina e a obrigar a usar um colar, que marcava seu casamento. A vida desta menina foi confiada a este homem, apesar do seu desacordo feito aos seus pais.
Isso é o que acontece com as menores, forçadas ao casamento pela própria família. A história, apenas citada, foi transmitida aos meios de comunicação do Vaticano por Anna Agus, membro de “Terre des Hommes”, uma ONG que, recentemente, publicou o dossiê intitulado “Indefesa 2024”, que trata também deste tema. O fenômeno das meninas-noivas, ao longo dos últimos vinte anos, tem registrado um declínio significativo no mundo, mas, ainda hoje, continua sendo um grande problema. Somente na Índia, acontecem mais de 200 milhões de casos, quase um terço das menores obrigadas a casar no mundo. Estima-se que, até 2030, o número de vítimas poderá aumentar em mais de 9 milhões. Aqui, entra a importante atuação das ONGs e da conscientização. Trata-se de uma história que, apesar do seu drama, ainda dá um fio de esperança. De fato, a menina de quatorze anos, sobre a qual falamos, tomou a decisão corajosa de encontrar uma solução para a sua condição, ao ligar, com o celular do marido, para o número de telefone do setor antiviolência, em circulação, cada vez mais, na Índia, também nas escolas, graças a uma ampla campanha de prevenção para salvar a vida das meninas.
O motivo principal, pelo qual as famílias tentam, muitas vezes, forçar suas filhas menores a casar, é econômico: uma boca a menos para sustentar em casa. Este fator é considerado importante em uma crise que deixa, cada vez menos, espaço para respirar na Índia. Assim, as famílias recorrem a uma solução, que se transforma em imposição e não em pedido de casamento. A sensibilização sobre este assunto e a ação de diversas ONGs, inclusive a “Terre des Hommes”, estão, ainda que com muito custo, tentando enfrentar uma questão cultural, considerada normal na Índia.
Outro fator, que não deve ser subestimado, é o concernente à herança. Por isso, muitas meninas são forçadas a casar com parentes, muitas vezes primos, mesmo que ainda não estejam em idade adulta. Este costume também está enraizado na cultura e muitas gerações sofrem. Por conseguinte, os riscos são enormes, a começar pela saúde: muitos casamentos impostos a meninas e jovens mulheres transformam-se, em curto prazo, em maternidade prematura, que coloca a vida da menor em perigo, com consequências diretas para o feto. Fala-se de casos de meninas de até onze anos grávidas.
Há ainda outro fator, de relevância cada vez maior, nos últimos anos: o sofrimento psicológico, que pode ser definido como a redução das menores à escravização: um dano invisível, que se reflete, cada vez mais, em seus corpos, afetando a sua fase de crescimento e em nível cultural e incide sobre a evolução da sociedade indiana.
Trata-se de dinâmicas, que privam milhões de meninas e jovens mulheres do sentido da vida. Milhões delas perdem o direito à independência e são obrigadas a viver fechadas na casa das suas famílias ou, quando casadas, na casa do marido, fazendo apenas trabalhos domésticos, desistindo, assim, de seus sonhos e ambições.
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